Sonho

No limiar de
sonhos perdidos

Liminaridade é um conceito da Antropologia e Neurologia. Trata-se de um estado subjetivo, de ordem psicológica, neurológica ou metafísica, consciente ou inconsciente, de estar no limite entre dois estados diferentes da existência.

Ambiguidade ou desorientação que ocorre durante o meio de um rito de passagem.

Espaços liminares são lugares que pelo motivo de sua existência são desapreciados, não observados, sequer notados, pois foram construídos com o intuito de servirem como meios de transição até um ponto específico.

São vários ambientes criados por seres humanos, tais como corredores, estações de metrô, praças e áreas comuns das ruas. Espaços que quase nunca ficam vazios e que possibilitam a circulação de pessoas.

Quando esses espaços são vistos em datas, horários ou situações não convencionais e encontram-se desocupados, suas essências se perdem e seus vazios se tornam gritantes, provocando um tipo de desconforto e inquietação.

Essa sensação de incômodo e mistério associada aos espaços liminares está ligada ao nosso medo do fim e à nossa consciência em relação à efemeridade da vida.
Podemos fazer uma analogia com a União Soviética durante a Guerra Fria, que durante todo o conflito conteve e gerou esperanças à população por meio da propaganda, que sempre ilustrava um futuro próspero, com a nação tecnológica e a humanidade em outros planetas.

Esse foi o cenário para a criação da vanguarda soviética, que apesar de todos os desafios, se apegava à crença de que um dia ainda viveriam o futuro com que sonhavam. Todo essa esperança pelo futuro criou um salão ideológico amplo, onde suas ideias e projetos geravam movimento.

Com o fim da URSS todo movimento se foi, e seu salão se contempla vazio, onde é possível escutar apenas os ecos do passado, que um dia lutaram para ver um futuro melhor.

Espaços liminares não precisam ser necessariamente físicos; também podem ser períodos de transição ideológicos. A era da Corrida Espacial da URSS pode ser considerada um espaço liminar, pois foi um período de transição, não só político, mas de ideais para toda uma sociedade; e nesse caso, essa área transicional levou a um destino mais triste que o esperado.

A melancolia e inquietação sobre esse período e seus resultados é traduzida melodicamente no Sovietwave, e esse sentimento também pode se aplicar aos dias atuais.

Vivemos atualmente também em um espaço liminar; a pandemia causa essa mesma inquietação que temos ao ver esses espaços vazios, pois não sabemos exatamente o que está por vir, mas temos a certeza que o futuro não será mais da forma que imaginávamos.

Existe um termo cunhado para esse sentimento: “Anemoia”, ou a nostalgia por um tempo que não existiu. Assim como na era pós-soviética, sabemos que a vida não será mais a mesma, e sentimos falta do futuro que nos foi prometido um dia.